
Gulnar Sacoor de “Encontros” Marcados
Artigo publicado no Jornal de Odivelas a 16-Setembro-2004.
por Patrícia Cardoso Fonsesa
Tudo o que tem forma esférica, que roda sobre si mesmo e volta ao início num movimento cíclico de encontros de matéria, textura, materiais, objectos e das próprias relações humanas, foi o objecto dos trabalhos que deram origem a “Encontros”. A mais recente exposição de Gulnar Sacoor, que vai estar patente no Centro Cultural Malaposta, no Olival Basto, até 2 de Outubro.
“Encontrar outros materiais, além da tela, para desenvolver trabalhos artísticos”. O desafio estava assim lançado pelo professor do curso de pintura da Sociedade de Belas Artes. Gulnar Sacoor aceitou o desafio, inspirou-se num texto onde as formas redondas e cilíndricas imperavam e assim nasceu “Encontros”.
“Ligar o Homem à sua essência”, diz a pintora, é o tema central da sua obra e é o reflexo do seu próprio ser, “transcendente e espiritual”, como descreve. Aqui essa ligação encontra-se na forma que o próprio mundo detém. Como em toda a sua obra o abstracto o minimal enchem as telas onde as cores fortes de Àfrica – que a viram nascer – se envolvem no jogo de formas arrancadas da banalidade do dia-a-dia se descortinam, na sua maioria, berlindes e bolas. As principais peças do seu jogo de pintura.
Como tudo começou…
Há perto de quatro anos que Gulnar Sacoor se voltou inteiramente para a pintura. O início do milénio marcou o início de uma nova época na vida desta moçambicana que fez de Portugal a sua segunda pátria e a Pontinha a sua casa.
Este era um sonho e desejo que Gulnar há muito retia dentro de si. “Desde pequena que notei que gostava de pintar”, conta, “ouvia uma espécie de vozinha que me dizia para pintar.” Mas, a vida fez com que tivesse de colocar no silêncio do seu coração essa voz. Cresceu, tirou o seu curso, arranjou emprego, casou e teve filhos. Um percurso de vida normal… Até que decidiu ouvir a voz que incessantemente a cativava para o mundo das telas e dos pincéis, aperfeiçoou e adquiriu técnicas em diversos cursos de arte, e descobriu que “do nada se pode fazer muita coisa,” refere.
Um acto de descoberta de si mesma que a transformou e que mereceu o regozijar da família pela mulher mais calma, madura e a caminho da realização que a pintura tinha feito desnudar.
Hoje sente-se “feliz” porque “faço aquilo que gosto e tento fazê-lo bem”, diz. Do futuro garante não buscar a fama, apenas e somente aceita “o que o tempo me trouxer”, revela.
E o tempo traz-lhe um novo projecto, para ganhar forma já para o próximo ano. Aí, as mãos e “com isso vincular a ideia que, na vida se está sempre a dar e a receber algo”, vão ser a sua fonte de inspiração.